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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Nós e a Crise Política ( 2 )

Hoje, 8 de Julho, os mercados já antecipam a superação da crise política . A Bolsa de Valores, designadamente, cujo indice tinha afundado estrondosamente mais de 7% regressou hoje aos valores anteriores á crise política . E, depois das declarações públicas de confiança dos Ministros das Finanças de varios Paises (Alemanha , França e Espanha ) e do próprio Presidente do Eurogrupo, na nova geometria da Coligação e na nova Ministra das Finanças (produzidas hoje  á margem da reúnião  do Eurogrupo ) o mais certo é as taxas de juro da nossa dívida começarem , também, a ajustar no sentido descendente já amanhã.
Na Europa de hoje nem se concebe que um País sob assistencia possa desviar-se do consenso geral sobre a condução da sua política .
Chegados a este ponto , as audiencias do Presidente da Republica aos Partidos e aos Parceiros Sociais mais parecem um proforma ja que a parte substancial da intervenção do PR residiu na imposição da presença do Presidente do CDS ( fosse ou não Paulo Portas ) no Governo da Coligação .
A avaliação retrospectiva dos acontecimentos permite tirar algumas conclusões :
- Tivesse o resultado final sido alcançado em reuniões privadas e não através de sucessivos "pronunciamentos " e as alterações de orgânica e de pessoal governativo não teria, praticamente, contestação.
- A atribuição a Paulo Portas da coordenação da política económica e das relações com a Troika faz sentido na perspectiva de uma mudança de orientação na polítca de relacionamento com a dita. Até porque nos termos dessa nova orientação será exigido á Troika uma participação efectiva na estrategia de crescimento complementar á de consolidação financeira .
- A divisão de tarefas entre o PM e o Vice PM parece irá fazer-se entre "funções de soberania " para o primeiro e funções económicas e de relacionamento com a Troika para o segundo .Tem lógica e as areas de sobreposição serão , logicamente, arbitradas pelo PM .
- A Reforma da Administração Pública ( coordenação atribuida ao Vice PM ) " mexe" com todos os Ministérios e , quanto a mim , justificaria a escolha de uma personalidade de grande prestígio ( um " Kaiser ") para desempenhar essa difícil e desagradável missão,  A pouca apetencia do Vice PM pela tarefa poderá vir a criar entropias no sistema ...
A política não é um " conto de fadas " - nunca tem "happy ends "e raramente são os melhor intencionados que saem vencedores .

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Nós e a Crise Política ( 1 )

                                                   

Quando a meio da tarde de dia 1 de Julho de 2013 ( 2º feira ) se soube do pedido de demissão de Vitor Gaspar do cargo de Ministro de Estado e das Finanças percebeu-se, subitamente, que algo de grave se estava a passar na cena política.

O pedido de demissão do Ministro, só por si, já seria preocupante. Mais ainda tratando-se de um Ministro central no processo político, interna e externamente. Muito mais sendo essa demissão acompanhada de uma carta justificativa que ia muito para além disso, já que era uma denuncia política de factos perturbadores de aspectos prioritarios do programa de ajustamento financeiro do País.
Sem o mencionar diretamente, a carta apontava de forma clara para o outro Ministro de Estado como principal responsavel pela não conclusão atempada da já famosa "7ª avaliação"...

Nas horas seguintes, percebeu-se que o Primeiro Ministro já tinha um substituto para o cargo. Uma substituta, mais concretamente. A solução mais adequada a manter o rumo da estratégia de consolidação orçamental e a solução que dava mais garantias de eficácia nas difíceis negociações com a Troika, o que se compreende dado que estamos a 15 dias do inicio da 8ª avaliação.
A saída de Vitor Gaspar, como foi explicado,  já não era assunto "virgem" sendo a 3ª vez que o Ministro apresentava a demissão.

O principal visado pelas denúncias de Gaspar terá ficado a matutar nas movimentações do ex Ministro das Finanças e, mais ainda, na solução encontrada pelo Primeiro Ministro para a substituição - uma solução de continuidade e não de rotura com a estratégia de consolidação como, aparentemente,  pretendia. Tudo reflectido, logo no dia seguinte, dia 2, (antes da tomada de posse da nova Ministra das Finanças) apresentou públicamente a demissão irrevogável sem dizer nada a ninguém nem do seu próprio Partido. Uma movimentação puramente individual, ao que parece...

Quarta feira dia 3, oito da manhã. Instala-se o pânico na Bolsa de Valores; nos mercados os investidores descarregam precipitadamente dívida portuguesa. As taxas de juro ultrapassam os 8%, em alta de mais de  2% face ao dia anterior. Na Comunicação Social internacional saem notícias pouco abonatórias para os agentes políticos portugueses e para a capacidade de o País continuar, com sucesso, o ajustamento económico e financeiro .

 Ainda no mesmo dia os Partidos de esquerda reclamam eleições antrecipadas, com agendas mais ou menos anti Troika, sem avaliarem as consequencias reputacionais para o País e para o calendario do processo de resgate.  Porventura  para o financiamento da economia e, no limite, para a solvência do País.

Quinta feira dia 4 (hoje). Perante a pressão da opinião pública nacional e dos responsaveis internacionais os principais agentes políticos tentam "colar os cacos" da credibilidade nacional .

Deste processo, longe de ter terminado, podem retirar-se, desde já, alguns ensinamentos:

1.As lógicas e as "narrativas" dos políticos que temos, as suas ideossincresias e narcisismos, sobrepoem-se ao interesse nacional, sem contemplçações;

2. As responsabilidades com o processo de resgate não estão assumidas por todos os agentes políticos por igual sendo justificadas as preocupações nacionais e  internacionais a este respeito;

3.O Presidente da República faz bem em acautelar a formula que vai ser encontrada para garantir o funcionamento da coligação face à fraca qualidade institucional já evidenciada pelos protagonistas e à importancia da fase seguinte do processo de ajustamento - a Reforma do Estado, ainda não iniciada .

Continuaremos, em proximo capítulo, a acompanhar esta fase crucial da nossa história contemporanea.

4/7/2013 - 23,45 h